Injeções para enxaqueca têm bons resultados em estudos

Uma nova classe de drogas contra a enxaqueca mostrou resultados promissores em dois estudos publicados no ‘The New England Journal of Medicine”. Desenvolvidas na forma de injeção, trata-se do primeiro tratamento produzido especificamente para a prevenção da condição que, quando crônica, pode ocorrer 15 vezes ao mês, com duração de horas a dias em alguns pacientes.

Hoje, médicos usam medicamentos “emprestados” de outras condições, como o uso de anticonvulsionantes (Topiramato e Divalproato), que tiveram primeira indicação para convulsões. Antidepressivos (amitriptilina) e medicamentos contra a hipertensão (propanolol) também pode são usados em alguns casos.

Mário Peres, que acompanha os estudos com a molécula, estima que uma das injeções (erenumabe) seja aprovada no primeiro semestre de 2018 no FDA (Food And Drug Administration, órgão que regula medicamentos nos Estados Unidos) e no segundo semestre pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Peres destaca que a principal vantagem das novas drogas é a tolerabilidade e a quase ausência de efeitos colaterais. Ele explica que medicamentos usados hoje para a prevenção podem causar perda de peso, problemas de memória (Topiramato) ou ganho de peso (amitriptilina), dentre outros efeitos.

O achado da molécula CGRP

As injeções foram produzidas tendo em vista um achado da ciência: pesquisas anteriores demonstraram que pacientes com enxaqueca produziam maior quantidade de uma molécula: a CGRP (sigla para ‘Calcitonin gene-related peptide’).

Essa molécula é formada por 37 aminoácidos e foi descoberta há 30 anos. Localizada no cromossomo 11, ela tem sua produção mediada por gene homônimo – por isso, o nome faz alusão ao gene (algo como ‘peptídeo relacionado ao gene da calcitocina’).

Estudo de revisão do “Physiological Review” publicado em 2014 menciona a função vasodilatora da molécula. Ela aumenta o diâmetro de vasos sanguíneos, mecanismo que também está associado à enxaqueca. Esse alargamento do vaso, junto com outras substâncias químicas, deflagram o circuito de dor. A molécula também é conhecida por mediar outros processos de dor.

O neurologista Mário Peres cita que, hoje, há quatro laboratórios com drogas em teste visando o bloqueio da CGRP.

Como funcionam as injeções

As injeções são anticorpos monoclonais. Essa classe de medicamentos já é usada para o tratamento do câncer e ela tem um comportamento curioso. Pesquisadores ‘clonam’ um anticorpo humano, que depois é treinado para reconhecer qualquer estrutura de interesse e eliminá-la — assim como fazem os anticorpos humanos — a estratégia ganhou prêmio Nobel de 1984.

Cientistas, então, treinaram anticorpos para reconhecer CGRP e, então, bloquear a ação da molécula, diminuindo a dor. No “New England Journal of Medicine”, os estudos testaram duas injeções: o Erenumabe e o Fremanezumabe.

1 – Resultados do erunumabe

Na pesquisa com o Erenumabe, foram recrutadas 955 pessoas: 317 recebeu uma injeção subcutânea de 70mg; 319 recebeu 140mg do medicamento; e 319 recebeu placebo (substância sem a droga).

Pacientes que receberam 140mg do medicamento relataram uma redução de 50% ou mais no número médio de dias de crises de enxaqueca por mês. Já o grupo de 70 mg, relatou redução de 43,3% e o grupo placebo relatou redução de 26,6%.

Também pacientes relataram melhora na capacidade de realizar as atividades diárias, redução da intensidade da crise e diminuição no número de medicamentos utilizados para interromper a dor.

De modo geral, pacientes toleraram o medicamento e relataram dor no local da aplicação da injeção.

2 – Resultados do fremanezumabe

Já com o Fremanezumabe, cientistas recrutaram 1130 pacientes: 376 recebeu o fremanezumabe trimestralmente, 379 recebeu o medicamento mensalmente e 375 recebeu um medicamento placebo.

Pacientes que tomaram a injeção trimestralmente relataram diminuição de 50% no número médio de crises de enxaqueca por mês. No grupo que tomou uma vez por mês, a redução foi de 41% e no grupo placebo a redução foi de 18%.

Além de dor no local da injeção, foram observadas anormalidades de função hepática em 5 pacientes em cada grupo que recebeu o medicamento e de 3 pacientes no grupo placebo.

Fonte: G1 Bem Estar
Revisão: www.cotaplanosdesaude.com.br

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