Pesquisa publicada na “Nature Communications” nesta sexta-feira (3) demonstra que o cérebro precisa produzir uma substância específica em região relacionada à memória para que pensamentos indesejados fiquem sob controle. O achado é particularmente importante porque medicamentos que mimetizam a substância podem ser desenvolvidos para tratar transtornos diversos, como os de ansiedade.
A substância encontrada trata-se de um neurotransmissor. Neurotransmissores são substâncias que fazem a comunicação entre neurônios, já que eles não se tocam. No caso da pesquisa, cientistas identificaram que o GABA (ácido gama-aminobutírico, na sigla em inglês), precisa estar em altas concentrações para que pensamentos do passado fiquem sob controle.
O GABA é um dos principais neurotransmissores inibitórios do cérebro: ele tem por função inibir a atividade de algumas células do órgão.
Isso pode ajudar a explicar distúrbios de ansiedade e condições mais gaves, como a esquizofrenia, dizem pequisadores. Essas condições frequentemente têm como sintoma uma avalanche de pensamentos “intrusos” que podem ter em sua raiz disfunções na produção dessa substância: a invasão de pensamentos negativos, quando não estamos solicitando a memória voluntariamente, é um dos principais gatilhos para transtornos de ansiedade.
“Quando essa capacidade se rompe, ela causa alguns dos sintomas mais debilitantes de doenças psiquiátricas: memórias intrusas, alucinações, ruminações e preocupações patológicas e persistentes”, diz.
Como os pesquisadores chegaram à substância
Em um primeiro momento da pesquisa, participantes voluntários saudáveis foram convidados a decorar uma sequência de palavras sem nenhuma conexão prévia aparente (como, por exemplo, calvície-barata-norte). Depois, em um segundo momento, eles foram convidados a “lembrar” ou a “suprimir” a palavra a depender da cor apresentada: se a cor for verde, a palavra é lembrada; se for vermelha, a palavra é suprimida.
A partir dessas técnicas, então, os pesquisadores chegaram à conclusão de que o GABA estava presente em altas concentrações dentro do hipocampo (região do cérebro associada à memória) quando a palavra era suprimida. E, que, por isso, esse neurotransmissor pode evitar que pensamentos sejam acionados contra a vontade.
O achado se soma a descobertas anteriores que mostravam o papel do córtex pré-frontal na supressão de pensamentos. Cientistas acreditam agora, que a combinação de ambas as funções é necessária para que os pensamentos sejam controlados — e, na esteira, também uma série de doenças associadas a essa condição.
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